domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Cura que vem da floresta


Para tratar doentes, os pajés cantam, dançam, fumam, 
consultam os espíritos e retiram a doença do enfermo usando as próprias mãos.

A pajelança é um ritual indígena, de cura por excelência, pois é praticado em tribos de diversas partes do mundo. Neles os pajés (em algumas tribos há mulheres-pajé) cantam, dançam e fazem encantamentos para invocar os espíritos da floresta, que irão guiá-los na cerimônia, na qual vão tentar retirar a causa da doença do corpo do enfermo.

A eficiência da pajelança vai depender da crença do interessado que se submeter ao ritual. "O fundamental é ter fé", diz o antropólogo americano Robin Wright, diretor do Centro de Pesquisa em Etnologia Indígena da Universidade Estadual de Campinas. "Mas, se não funcionasse, a pajelança não seria uma tradição de milhares de anos entre os povos indígenas." Wright vive há 20 anos no Brasil e pesquisa há décadas os Baniwa - tribo do noroeste da Amazônia, na fronteira da Venezuela com a Colômbia -, que praticam a pajelança. É comum os pajés usarem substâncias psicoativas que os colocam em um estado alterado de consciência. Eles acreditam que, assim, a alma sairá do corpo e entrará em contato com espíritos e outras entidades do Cosmos, que lhes orientarão durante o ritual. O tabaco é a substância mais utilizada para atingir esse estado de consciência. Ele é fumado ou ingerido em grandes quantidades, nas formas líquida ou pastosa.

A doença entre os povos indígenas é interpretada como resultado de um objeto patogênico introduzido no corpo da vítima - seja por bruxaria ou até pela não observância de um jejum recomendado. Para os índios, esse objeto patogênico é um intruso e a tarefa do pajé é identificar a causa e retirá-la.

Os rituais variam bastante, mas, no Brasil, algumas técnicas são comuns a várias tribos, como o uso da massagem em que o pajé manipula com as mãos a parte física adoentada. Outra maneira é a sucção: o sacerdote coloca a boca na região doente, suga o objeto patogênico e depois o vomita.
Em 1986, os rituais de pajelança despertaram atenção internacional quando o cientista brasileiro Augusto Ruschi - considerado a maior autoridade mundial em beija-flores - se submeteu a uma pajelança para livrar-se de males que, acreditava, teriam sido causados pelo veneno de sapos que ele capturara na Amazônia. O cacique Raoni, da tribo Txuacarramãe, e o pajé Sapaim, dos Camiurá, retiraram uma gosma esverdeada do corpo de Ruschi, anunciando que aquela era a causa do mal.

texto de Cíntia Cristina da Silva, extraído da "Revista das Religiões", edição especial - Junho 2004

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